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Salvador, Bahia, Brazil
Baiano, que gosta da mulher que ama (um dos últimos sobreviventes), bastante comunicativo, sou formado em Publicidade e Propaganda pela FIB/BA e além disso sou um cara muito romântico, a ponte de escrever poesias...

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Aqui vocês vão se distrair e saber um pouco das aventuras e desventuras de um simples mortal que sobrevive pela vida levando umas cheias e outras em vão...

Vou procurar deixar meu BLOG muito interessante no que diz respeito, a me acompanhar neste diario de bordo...

terça-feira, 16 de março de 2010

JÁ É, JÁ ERA CARNAVAL, CIDADE!















Eu sei que o “CARNÁ” já passou a muito tempo e devemos só falar agora do São João, mas se tratando da Bahia, uma terra sob o signo da folia, logo, logo o assunto do reinado de Momo estará em pauta novamente. Sim, o carnaval não vai demorar a bater em nossas portas, nos convidando a sair atrás do trio, alucinados pelo som da nossa música.



O carnaval conhecido por mim e que hoje rendo aqui minhas homenagens era totalmente diferente do que é visto atualmente por milhões de telespectadores hipnotizados pelo reino momesco e suas atrações de peso, da elite e comedores de “pipoca-humana”. Digo isto porque, a pipoca é a única situação para quem não tem dinheiro, brincar sem está no cordão. Ou seja, os “pipoqueiros” são simplesmente devorados por turistas nos blocos de carnaval. Não é difícil perceber que os foliões de “língua embolada” hoje são praticamente quase 100% na avenida. Chegamos numa era do carnaval tipo exportação. Grande título... Sustentado pela exclusão do povo, carente de espaços no circuito da folia.
Na minha época de folião, na grande festa popular de rua (hoje totalmente impraticável) tinha bancos e cadeiras colocados nas calçadas e o espaço dava pra gente brincar sem muita confusão, brigas ou até mortes. Era um tempo onde se via até crianças jogando serpentina, confetes e molhando pessoas com água da lança-perfume (brincadeiras de menino), acompanhado sempre de seus pais. Todo mundo se conhecia e os blocos de carnaval saíam de tudo que era bairro: Vinham do Tororó, do Politeama, do Campo grande, da Liberdade e até da cidade baixa e da periferia de Salvador.
O povo chegava ao circuito do carnaval para participar da grande alegria de pular atrás do trio-eletrico independente da atração que fosse. Caetano Veloso, Moraes Moreira, Ademar “Furta Cor”, Sarajane, Laurinha, Luiz Caldas, Zé Honório, Armandinho, Novos Baianos, Gerônimo entre tantos outros. Tudo era uma coisa só. Pensava-se na curtição do som, a música no carnaval e por isso, os sucessos brotavam da fonte do artista baiano. Da música “Pombo-Correio” de Moraes Moreira ao hino do Axé-Music Fricote (Nêga do Cabelo duro) de Luiz Caldas, tivemos um leque de músicas que estouraram no carnaval da Bahia. Não existe outro lugar no mundo assim: Criatividade e imaginação a flor da pele!.
O grande problema é que o carnaval inchou, teve uma visibilidade fora do comum e por conta disso, o índice de turista na cidade é sempre crescente a cada ano. Salvador transforma-se no mês de fevereiro numa grande vitrine, a mostrar para o mundo, como se faz uma grande festa popular, onde todos são iguais, independente de raça, cor, religião e principalmente grana no bolso. Bem, isso mostrado pelas transmissões, internet e em lembranças mais saudosos de algum folião “das antigas”, realmente faz até sentido. Porém pra quem faz do carnaval – os pipoqueiros da folia – a realidade é nua, crua e dolorosa.
.Existe sim, um massacre humano entre as pessoas – pipoca de carteirinha – e os cordeiros (gente com pele de “animal”) que provoca desnecessariamente a violência e com ela, torna impossível o carnaval. Isso é o que assistimos “in loco” e a mídia, principalmente a TV, faz questão de não mostrar e nem admitir que exista coisas absurdas em nome da agressividade sem motivo e desmedida, já que a festa é feita de pura alegria e glamour (nas roupas das cantoras de trio, como Ivete Sangalo, Cláudia Leite, Daniela dentre outras). A mídia é que dá o status de grandiosidade e uma maravilha singular a essa mistura de ritmos, sons, imagens e visual. Por dentro da câmera tudo se modifica: entra feio e saí bonito ao transmitir o carnaval da Bahia na manipulação dos acontecimentos..
Pior que a falta de espaço para brincar nos circuitos do carnaval, será a privatização (já comentada por alguns) do carnaval através do seu circuito, mas especificamente o circuito da Barra – Circuito Dodô, onde o carnaval por lá cresceu e hoje é considerado por muitos, o “primo rico” do circuito Osmar no centro da cidade, esquecido e largado a própria sorte, se sorte ainda tiver.
A novidade é que é bem capaz do circuito da Barra virar um “carnaval-griffe” coordenado pela elite do carnaval baiano (Ivete, Cláudia Leite, Durval Lelys, Daniela Mercury e seus respectivos blocos, entre outros), potencializando a demanda para aquele local, de turistas que chegam, olham, gosta da folia e deseja voltar no próximo ano. Seria um circuito fechado onde teria de tudo: Camarote do bom, transmissão exclusiva, atrações de primeira, uma galera bonita, bebida e alimentação dentro da máxima qualidade e limpeza. Não que isso não exista. A verdade é que há muito tempo é ele quem dá as cartas do nosso carnaval para o mundo. O Carnaval só tem atualmente um circuito: o da Barra! A Prefeitura de Salvador até dá o apoio, mas não chega ao investimento feito pelos grandes blocos, tipo: Camaleão (chiclete), Crocodilo (Daniela Mercury), Coruja (Ivete Sangalo) Asa de águia (Durval Lelys) e o Papa (Cláudia Leite) que investe na figura do turista em deixar seus dólares para movimentar as grandes cifras do carnaval em apenas cinco dias de folia.
Não que eles estejam errados, pelo contrário, num mundo capitalista aquele que não se mover economicamente, morrerá. Mas o pensamento é um e a visão é outra, se tratando em excluir o povo de participar da brincadeira de rua. Quando se fala em privatizar, nos remete a dividir e a separação de pessoas. Nesse caso, um circuito só para turista é promover a exclusão no carnaval. Pergunto: Aonde a pipoca vai brincar sem atração de peso? Já que somente na Barra vai desfilar os grandes artistas baianos. O folião do Campo Grande – circuito Osmar também merece ver a cara de um Chiclete, de uma Ivete, Daniela, Durval... Afinal se eles (todos eles) conseguiram visibilidade é porque o povo “balançou o chão da praça” fazendo deles grandes nomes e cantores de trio elétricos. Na agonizante situação do circuito antigo, ficando a cada ano mais diserto, é o atestado que não temos consideração com as pessoas que abriram portas, para se fazer do carnaval um referencia de festa popular no mundo inteiro. Ninguém sabe mais quem foi Dodô, Osmar, Moraes Moreira, um Luiz Caldas, uma Sarajane nem muito menos uma caetanave (um trio dedicado a Caetano Veloso) ou um trio Tapajós. Nossa memória carnavalesca é sucumbida por valores que nada serve para lembrar-se ou fazer referência da primeira leva e da boa estirpe de nossos carnavalescos. O que é uma pena...
A única emissora que fez o papel de mostrar a nova geração de foliões como começou nosso carnaval, foi a Rede TV Educativa da Bahia - TVE, com um excelente programa/documentário “Nosso Carnaval”, onde apresentou cronologicamente e de forma precisa, o inicio e a evolução do carnaval baiano, juntamente com entrevistas de nomes importantes nesse processo. De 1950, ano que a fubica de Dodô e Osmar revolucionou a vida de muita gente até hoje, com a presença de futuras e boas revelações nesse cenário. Esclareceu muita coisa dos bastidores. Foi realmente imperdível.
No último carnaval que comemorava os 60 anos do trio elétrico e 25 anos da música axé, ninguém da nova geração rendeu homenagem a Orlando tapajó, que realmente foi a pessoa deu o formato do trio elétrico atual, saindo das cornetas para caixas de som, além da estrutura do cantor ficar lá em cima ao invés de cantar na lateral do trio junto a banda. Banda esta, que ganhou importância no trio de Dodô e Osmar e Armandinho, e seus solos de guitarra baiana juntamente com Moraes Moreira, nosso primeiro cantor de trio. Assim também aconteceu com os Novos Baianos, Pepeu Gomes e Baby do Brasil (ex-Baby Consuelo) fazendo um som que envolvia quem estivesse na rua a pular. Isso tudo na Praça Castro Alves, palco de novidades musicais e grandes encontros de trio.
O carnaval da dupla comemoração me levou a pensar que seria feito de infinitas homenagens aquela turma que eu adorava ver nas ruas. Um Luiz Caldas, uma Sarajane e outros a relembrar grandes sucessos. Ledo engano! Apesar de Moraes Moreira, Sarajane e Luiz Caldas saírem num trio independente cantando as músicas daquela época, é muito pouco para contribuição deles no processo cultural e musical que transformou toda uma linguagem popular de uma festa de rua.
Não devemos esquecer que nada teria a beleza e a mistura de ritmos de hoje, se esses desbravadores não tivessem sua importância em fazer do nosso carnaval uma coisa ímpar quando se trata na alegria do povo. Não há nada que se compare essa energia entre eles e nós, foliões que saí atrás do trio.
É como se fosse hoje e nesse instante, minha corrida atrás do trio elétrico, seguindo o som eletrizante de Armandinho e sua “guitarra baiana” nos idos do carnaval na década de 70. Eu era um adolescente que não se preocupava ainda com efeito colateral que o carnaval podia provocar no folião, apenas pulava feliz atrás de Dodô e Osmar dando diversas voltas entre o Campo Grande, Avenida Sete e a Praça Castro Alves, que sempre na terça-feira tinha o encontro do trio. Uma maravilha! Por lá, vi Moraes Moreira imortalizar vários sucessos, encontros de trios inesquecíveis: tapajós com Novos Bárbaros, além de aparecer novos ídolos da folia de Momo, como Luiz Caldas, Sarajane e Ivete juntamente com Daniela ainda tímidas para enfrentar um público tão grande, seja ele dentro ou fora do cordão. Para mim o carnaval já era carnaval, cidade! Pois aquele prazer de andar pelas ruas se foi há muito tempo... Estamos cercados de camarotes, turistas e blocos que perdeu sua essência de participação popular, pois os foliões nativos são muito pouco dentro da corda. Aos foliões “das antigas” que curtiram a valer o carnaval em grande estilo: cantores, música e som de qualidade daquela época (como eu), minhas saudosas condolências. Vocês acabaram de assistir e presenciar a morte anunciada há muito tempo atrás e agora confirmado do nosso carnaval de raiz (composto de nossa verdadeira espontaneidade) e, não o de casca de verniz, (voltado e adaptado as coisas de fora) que faz somente a alegria, a felicidade e o desejo daqueles que vem a boa terra e ditam o novo formato de diversão popular.